[Texto] É Só Um Quarto Vazio

em 16.10.13


     Agarro-me no travesseiro e choro. Entre soluços e palavras gritadas aleatoriamente, sinto seu cheiro brotando da fronha floral azul. Doce, levemente cítrico. Invadiu-me a lembrança daquela noite fria de junho. Teu corpo dourado, nu, somente adornado de um colar artesanal. Minha cabeça repousava sobre teu peito e teus braços me aninhavam. Você sussurrava, contando as "dobrinhas" do meu pescoço. E ríamos. 

     Num estalar de realidade, saí deste devaneio e encarei a cama, que se mostrava tão enorme para um corpo solitário. O abajur de luz amarelada sinalizou uma foto na parede e, como se eu estivesse me esquecido por alguns segundos, lá estava o teu sorriso largo, emoldurado, que nem precisa de luz para ser notado. 

     A janela aberta, do outro lado, entrega o céu escuro e abandonado pelas estrelas e pela lua. Tão sozinho quanto a minha sombra. Tão triste como a minha alma. Tão vazio quanto este quarto… Ou quanto a mim mesmo.


TOURINHO, Mateus.

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