Conto de Farsas - Capítulo Dois (Parte 3)

em 21.12.13



Paralisei.
Pisquei sem acreditar. Ele estava ali mesmo? Não. Era piada. Só poderia ser.
Ficamos um bom tempo sem falar. Então Christopher continuou a me encarar, esperando uma resposta minha, resposta essa que viera com outra pergunta.
– Ai meu Deus! O que faz aqui? – desesperei-me ao perceber o que eu havia acabado de fazer. Seu olhar fizera um tour em meu corpo e só então percebi que os meus trajes, bem, eram um tanto reveladores. 
– Sabe que eu ia te fazer essa mesma pergunta? – ironizou, e eu me encolhi. O quarto era dele, quer dizer, continuava sendo, agora que ele voltou de não sei onde.
O garoto havia sumido no mundo, e agora que eu estava aqui ele resolvera voltar? É muita falta de sorte minha...
... Ou será sorte grande? Não sei.
Ele me olhou curioso talvez se perguntando o que eu estava fazendo ali. Ou então ele estava me analisando, como eu havia mudado... Pra melhor e tal... Ai, Marjorie não viaja!
Eu precisava parar com essa mania de tentar deduzir as coisas.
Continuou me olhando. Eu estava começando a ficar sem graça com ele me olhando daquele jeito misterioso. Se ele não parasse, começaria a imaginar coisas nada bem vindas para minha sanidade.
Quando dei por mim, tinha largado a caixa de bijus e caminhava até a cama para pegar meu cobertor e tentar cobrir o máximo que pudesse do meu corpo. Ele acompanhava meus movimentos, pelo que percebi em minha visão periférica.
– Acho que terei de dormir no quarto de hóspedes... – eu disse, totalmente sem graça.. – Então, já vou indo.
– Está trancado... – ele dissera, arrastado, alisando a parte da cabeça que fora atingida pela caixa. Olhei-o meio que pedindo desculpas e também como quem diz “o quê?” – Por que acha que eu to aqui?
Eu que sei?
Ele pareceu ler minha:
– Se estivesse destrancado, acha que andaria até o final do corredor pra vir dormir aqui em meu quarto do jeito que eu to aqui – ele olhou pra minha cama, quer dizer a cama dele. – morto de cansado?
Se bem que aquilo fazia sentido. Mas nem tanto. Agora, por que essa desconfiança da minha parte, assim, sem motivo aparente?
– Então dormirei no sofá da sala – Até que não era má ideia. Fizera menção de abrir a porta e sair daquela situação constrangedora, mas ele segurou meu braço antes mesmo que eu tocasse a mesma.
Puxei a mão como se tivesse levado um choque. O que na verdade aconteceu, pois senti choques elétricos passarem por meu corpo só com o simples toque.
Engoli em seco. Aquilo era patético.
– Não precisa sair – ele disse. Olhei-o de canto. O que? Ele queria que eu dividisse a cama com ele? – Você pode dormir aí...
Hein?
O olhei diretamente, me sentindo meio estranha com aquela situação. Ele arqueou  as sobrancelhas, esperando que eu falasse algo. Como eu não falei nada, disse:
– Eu posso dormir no chão, ou no sofá daqui do quarto... – ele varreu o quarto com o olhar, não encontrando o sofá. – Onde foi parar o sofá daqui?
Eu tive vontade de rir.
– Hã... Sua mãe achou que você não voltaria de Aberdeen, então... – dei de ombros. Ele assentiu e deu de ombros também.
– É, eu não voltaria se não fosse por... – ele hesitara por um instante, olhando-me em seguida. – Se não fosse por algumas coisas que deixei pendentes por aqui.
Que coisas? De repente aquela frase me deixou mais curiosa que nunca. Como se houvesse mais significados por trás dela do que a minha mente pudesse imaginar.
– Ah! Sim, sim... – assenti, tentando ser compreensiva. Quando na verdade eu estava confusa e desconfiada.
Ficamos em silêncio por algum tempo. O que me incomodou bastante. Então Christopher pareceu perceber o clima meio tenso e andou até o guarda-roupa. Observei-o pegar alguns travesseiros e cobertores. Seguia seus movimentos minuciosamente com o olhar. Caminhou até o outro lado da cama, perto da janela. Abaixou-se olhando embaixo da cama, puxando um colchonete de lá. Abriu estendendo-o no chão. Forrou tudo com a maior paciência e deitou-se em seguida. Fiquei olhando por algum tempo, até que o senti me encarar, talvez se perguntando por que eu o estava encarando.
Acordei do meu breve devaneio e deitei na cama. Cobri-me com o edredom dos pés a cabeça, deixando a mostra apenas o meu nariz, como de costume. Peguei no sono bem mais rápido do que pensei...

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