Conto de Farsas - Capítulo Um (Parte 4)

em 28.3.13




(...)

― Mar, você está se sentindo bem? ― pudera ouvir Letícia me perguntar, assim que despertei de minha breve recordação. Então percebi que agora o máximo que poderia ter do meu pai eram recordações... Somente o que restaram.
Tudo parecia ter morrido dentro de mim. Sentia-me tão mal com tudo aquilo... Se não fosse por mim, meu pai poderia estar vivo, poderia estar ali comigo. Se eu não o tivesse distraído, talvez...
― Marjorie...
Fechei os olhos, tentando reunir minhas forças. Se bem que naquele momento soava até meio estranha a palavra “força”, pois o que menos me sentia naquele momento era “forte”.
― Estou bem ― respondi num sopro. Não encarei Letícia, ela me conhecia o suficiente pra saber que eu estava mentindo. Ainda mais numa situação como aquela. ― Só quero ficar um pouco só...
― Mas, Mar... ― ela tentou protestar. Olhei em seus olhos (agora penosos sobre mim), como uma súplica. ― Tudo bem, se você quer assim...
― Vamos Letícia ― disse Sofia. ― Marjorie precisa descansar um pouco mais, não é mesmo querida? Ela tem muitas coisas para resolver consigo mesma. ― olhou para mim, sorriu docilmente. ― Eu te entendo meu bem...
― Qualquer coisa é só chamar. Estaremos logo ali fora ― avisou Letícia.
Assenti levemente.
Elas caminharam até a porta e saíram.
Recusava-me a acreditar que meu maior ídolo havia morrido. Inspirava-me em meu pai em tudo em minha vida, ele era meu refúgio quando algo ruim me acontecia. Era meu conselheiro. Era tudo pra mim. Era meu amigo. E agora... Agora só restavam recordações?
Olhei a minha volta, e tudo estava embaçado. Limpei as lágrimas, antes mesmo de começarem a cair. Não poderia deixar a enorme dor sucumbir. Mas naquele momento desejei ter morrido no lugar de meu pai...


― Será que hoje posso ver a minha mãe? ― perguntei a Letícia numa manhã, com uma ponta de desânimo, quando me trouxe o café-da-manhã. Respondera-me com um simples “não sei”, mas sua expressão ficara séria diante de minha pergunta. Estranhei, mas esqueci.
Fazia quase uma semana que eu estava confinada naquele quarto. Não me deixavam caminhar pelo hospital. Eu me sentia ótima, não havia nada de mal em caminhar, nem que fosse pelos corredores. Mas o médico insistira em me deixar de molho ali naquela cama todos esses dias.
Até um dia em que resolvi seguir minhas próprias ordens e vontades. Foi numa madrugada, quando acordei assustada com um pesadelo que havia tido. Letícia dormia numa cama para acompanhantes ao lado da minha, como sempre. Vi ali então uma grande oportunidade para dar uma caminhada pelos corredores e quem sabe ir ver mamãe...
Esgueirei-me por baixo dos cobertores e pela força do hábito procurei minhas pantufas. Lembrei-me então que não estava em meu quarto, mas sim no hospital, onde nenhuma das minhas frescuras era satisfeita. Toquei meus pés no chão gélido do quarto e tomei cuidado para não fazer barulho algum. Quase me esqueci do soro que teria de levar junto, já que para me livrar dele daria mais trabalho do que caminhar com o mesmo pelos corredores, e mesmo assim doeria pra caramba retirá-lo. E como sou desastrada e escandalosa, com certeza seria capaz de acordar a todos do hospital.
Sentia-me um pouco sonolenta, talvez fosse um tipo de medicamento que eles estavam me dando que me causava esse efeito. Bocejava em todos os malditos minutos que se passavam. Que tipo de droga estavam me dando afinal?
Ri com minha tentativa tosca de fazer piada com algo sério.
Abri a porta do quarto lentamente, que rangeu um pouco quando passei por ela, o tecido raspou na porta fazendo um barulho meio estranho. Fechei-a com a mesma lentidão com que a abri. Já fora do quarto, olhei os dois lados do enorme corredor e saí procurando pelo quarto de minha mãe. Seria uma longa madrugada pelo que pude perceber, já que eu não sabia onde era o quarto...
Fui me aventurando pelo corredor levando o soro pendurado no suporte em meu encalço, já que não podia livrar-me dele. Então me lembrei de que em cada porta existia uma ficha de acompanhamento do paciente. Olhei em cada porta que havia naquele corredor, nenhuma das primeiras seis portas eram aquela que eu procurava, a não ser pela sétima.


2 comentários:

  1. Agoora eu fiquei curiosa, quero o próxiiimo *-*

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Postarei, com certeza amor *--*
      Obrigada por ler e comentar. Isso me motiva muito. <33

      Excluir