Dei uma olhada para o quarto que era nosso, onde
agora só restavam lembranças. Lembranças essas que me faziam hesitar diante de
minha decisão de partir.
Quando achei que nada na vida poderia ficar pior, o
destino veio e me provou o contrário. Tudo aquilo que julguei ser o certo, foi
posto à prova, fazendo-me perguntar se valeu mesmo a pena me sacrificar por
algo tão incerto.
Cheguei a pensar por um momento que havia alcançado
tudo aquilo que sempre quis. Num momento a felicidade estava em minhas mãos, no
momento seguinte pude vê-la escorrer pelas mesmas rapidamente. Algo que demorei
muito para construir estava se esvaindo tão facilmente. Não é à toa que dizem
por aí, e já foi comprovado, que só precisamos de alguns segundos para destruir
o que demorou anos para ser construído. Pessoas que achei ser de confiança, não
passavam de impostores tentando aniquilar minha felicidade. Decepção após
decepção me fez abrir os olhos para a realidade da vida, onde nem tudo é aquilo
que achamos que é, que nada do que desejamos ter nem sempre vai se tornar real
de um dia para o outro se não corrermos atrás. Escolhas devem ser feitas se
quisermos realmente que algo se concretize. Não importa o quão difícil elas
sejam.
Aprendi que dar a cara a tapa não demonstra que
somos fracos, mas sim, sensatos o suficiente para assumir um erro mesmo estando
certos. Aprendi com o sofrimento, uma lição de que nem tudo dará certo, nem
mesmo se caminharmos na linha.
E nessa lista de “aprendizagem” eu fui percebendo
que minha vida tornou-se um caos total.
Caminhei pelo quarto, tocando tudo por onde
passava, registrando as formas, armazenando-as em minha memória. Passei por uma
poltrona, onde repousava uma camisa azul-claro. Peguei-a, os dedos relutantes
quanto ao que iria fazer, acariciei-a enquanto trazia a camisa próxima ao meu
rosto. O cheiro que dela emanava invadira meus pulmões, apenas com o simples
ato de inspirar. Subitamente lágrimas brotaram em meus olhos. Em pensar que,
após minha decisão, talvez nunca mais sentisse aquele cheiro que por tanto
tempo me fez sorrir à toa, que tanto me entorpecia.
Alertei-me do que estava prestes a fazer se eu
continuasse ali, e enxuguei as lágrimas persistentes. Quanto mais eu
prolongasse o meu tempo naquela casa, mais chance teria de me bater com alguém.
E o que menos queria naquele momento eram despedidas.
Coloquei a camisa em seu devido lugar, apesar de me
ter ocorrido a ideia de leva-la comigo como lembrança. Corri arrastando mais
uma de minhas malas logo atrás de mim. Com um último olhar cansado e relutante,
fechei a porta do quarto e parti para um futuro que fiz questão de entregar ao
destino. Esse que tanto me maltratou...
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