Conto de Farsas - Capítulo Dois (Parte 2)

em 27.11.13



Jantamos todos em silêncio.
Não sei se era costume por lá, ou talvez fosse pelo clima tenso que pesava ali desde que eu voltaei do hospital. Eu me sentia mal por estar ali de favor.
Quando não tinha mais nada pra fazer ali com eles, disse que estava cansada e fui pro meu novo quarto – antes do Christopher. Que ironia. Mas deixa pra lá.
Subira as escadas de dois em dois degraus. Quando finalmente me sentira devidamente segura dentro de meu quarto, joguei-me na grande cama de casal. Ficara ali por alguns instantes, somente pensando. Depois de alguns minutos levantara-me da cama, dando-me conta de que ainda estava de jeans e blusa. Retirara a roupa, colocando minha camisola preferida com desenhos de pandas. Eu adorava pandas. Era fascinada por eles. Não foi à toa que me deram um de pelúcia de presente de aniversário assim que fizera quatorze anos. Eu o possuía até hoje. Sempre comigo quando durmo. Nunca me esqueço dele. Quando me sinto só, agarro-o com toda a força possível tentando espantar a solidão. E acho que um dia terei que me livrar dele, ou dar pra alguém que cuidará dele melhor do que eu, e que não sofrerá quando olhar para ele, pensando em quem dera o urso.
Ei, por que me lembrei disso?
Deitei-me na cama, me cobrindo com o grande e ainda frio edredom. Ficara um bom tempo pensando na conversa de mais cedoque tivera com a Letícia. Eu estava pronta pra lutar pela guarda de minha irmã. Amanhã cedo iria procurar um trabalho e depois que conseguisse – se conseguisse – iria visitar a Claire. Meu bem maior...

...E acho que adormeci com esse pensamento.
Não me lembrava de ter adormecido. Sei lá, acho que isso sempre acontece com todos. Só dera-me conta de que estava acordada, quando me vi sentada na cama, olhando fixamente para baixo, para o edredom especificamente. Respirei profundamente. Não me lembrava se eu havia tido um pesadelo. A única explicação para eu acordar assim.
Achei que fosse só mais uma noite mal dormida, como vinha acontecendo desde que meus pais haviam falecido. E isso fazia, para ser específica, uma semana.
Voltei a me deitar, colocando a mão em minha testa. Eu estava totalmente suada. Resolvi levantar e tomar uma ducha para amenizar o calor que supostamente eu estava sentindo, e talvez assim voltar a dormir tranquilamente. Entrara no banheiro, tirara minha camisola, e entrei no box, abrindo o chuveiro em seguida. Fiquei ali, sentindo a água cair sobre meu corpo, relaxando. Só dei conta de que estava ali há muito tempo, quando percebi meus dedos enrugados. Ao sair do box, sentira um frio de congelar os ossos. Consequência do tempo embaixo do chuveiro.
Saí correndo do banheiro, num súbito ato de coragem. Uma sorte grande a janela estar fechada, pois não duvidaria nada se congelasse enquanto vestia a roupa. Após estar devidamente vestida com minha camisola, voltei a me deitar na cama. Virei-me para o canto direito da cama, oposto a janela.
Fechei os olhos e quando achei que havia dormido um barulho de chaves girando na porta do quarto me fez sobressaltar da cama e caminhar até a cômoda, pegando um objeto qualquer para me defender no caso de ser um ladrão tentando entrar. Esgueirei-me para trás da porta, me preparando para atacar o que estava do outro lado da porta. Houve um silêncio após o barulho das chaves. Em seguida a porta abriu-se lentamente. O suposto ladrão entrara e eu o atingi com o objeto - minha caixa de bijuterias - bem no meio de sua cabeça. O sujeito praguejara. E em seguida olhara pra mim - a agressora.
Pelo amor de Deus, isso é uma piada.
Reconheci o sujeito de primeira. Como poderia esquecê-lo?
Mas nunca pensei que ele poderia aparecer ali, naquele momento. E, como eu, ele parecia surpreso em me ver, mas não deixou de me perguntar, irritado:
– O que deu em você?


Continua...


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