Conto de Farsas - Capítulo Dois (Parte 1)

em 26.11.13



Havia acabado de colocar a última caixa da mudança em cima da exagerada cama de casal. E justamente naquela última caixa havia fotos minhas com meus pais. Subitamente lágrimas brotaram de meus olhos.
Era tão doloroso olhar aquelas fotos e perceber que nunca mais poderia vê-los. Sentia-me ainda pior por minha irmã, Claire. Ela era ainda tão pequena. Um bebê de apenas seis meses...
Consegui resistir à vontade de chorar por três dias, mas foi só olhar aquelas fotos pra tudo desmoronar como uma cachoeira de infelicidades sobre mim. As lágrimas jorravam de meus olhos, silenciosas.
Ouvira a porta se abrir, e tentara apagar vestígios das minhas lágrimas. Colocando as fotos de volta na caixa. Dedicara minha atenção em arrumar alguns objetos de minha mala em cima da cômoda. Tentando esquecer que por algum momento chorava.
Está precisando de ajuda? – pudera ouvir Letícia, que antes colocara a cabeça pela porta, agora com todo corpo dentro do quarto.
Não, não. Essa foi a última caixa. – sorrira agradecida.
Então tá bom. – ela sorrira gentil pra mim. Sentou-se na beira da grandecama e me encarou. – Está tudo bem, não está?
Está sim. Por que a pergunta? – franzira o cenho. Eu sabia o que ela estava falando, mas não precisava lembrar. Ficara meio tensa.
Não, nada de mais – ela sorrira novamente, percebendo minha tensão. – Vou ajudá-la assim mesmo.
Rira de sua persistência.
Tudo bem, então. – dissera eu, mostrei-lhe a caixa em cima da cama. – Só falta essa caixa.
Ela assentira levemente.
Ficamos em silêncio por um momento enquanto arrumávamos as coisas. Até que ela resolvera falar.
Como foi a visita com a Claire? – percebera seu olhar em mim. – Correu tudo bem?
Aham. Mas a advogada me disse que não há muitas chances de eu conseguir a guarda da Claire. – dera um sorriso meio triste. Letícia sorrira encorajando. – Mas não desistirei. Tem que haver outra maneira de conseguir a guarda dela.
É como meus pais disseram a você, Mar – ela largou os objetos que colocava em cima da cômoda e caminhara até mim, colocando as mãos em meus ombros. – Você não precisa se dar ao trabalho, eles podem conseguir a guarda dela, enquanto você não consegue um trabalho.
Não, não. Seus pais já ajudaram bastante. – dissera eu, persistente e teimosa. – Eles não precisam de mais problemas.
Mas, Mar...
Não, Tiça. – a interrompi. – Eu já sou maior de idade e irei conseguir a guarda de minha irmã. Ou não me chamo Marjorie Furtado.
Letícia me olhara espantada, por minha determinação, talvez. Ela não fazia ideia do que eu seria capaz de fazer por minha irmã. Ainda mais quando eu só a tinha no mundo. A única pessoa que merecia minha dedicação. E que eu faria de tudo para não perder também.



Continua...


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