Era início de tarde, não havia quase ninguém no pátio. A não ser alguns alunos que ficavam para a aula da tarde. Por conta da carga horária de aula nas segundas e quartas, por muitas vezes almoçava na escola.
Não gostava muito da ideia de ficar na escola o dia todo não, ficava apenas pelo fato de ter a companhia de alguns amigos. Havia feito novas amizades na semana anterior e me sentia bem pra caramba. Eles eram legais. Bem divertidos até... Mas havia um especial.
Sim, aquele que eu me sentia extremamente bem de estar perto. Aquele que ao chegar exalava com seu carisma todo o ambiente. Impossível não sorrir para ele sem parecer uma tremenda idiota. Era inconsciente.
Ele era bem palhaço, o que eu mais gostava nele. Sua espontaneidade me surpreendia cada vez mais. Era fácil de sentir a tranquilidade que dele emanava. Não havia nada de forçado nele e achava isso incrível. Ele não se preocupava com o que iriam pensar. E o melhor de tudo: estava sendo uma ótima companhia naquelas tardes.
Mas justamente naquele momento ele resolvera sentar do meu lado oposto e longe de mim. Sozinha, resolvi reler Cabeça de Vento para passar o tempo. Olhei para ele algumas vezes e percebi o quanto que me encarava. Parecendo me examinar minuciosamente. Estava começando a ficar constrangida.
Foi aí que tudo começou a se desenrolar em minha mente. Comecei a aceitar certas coisas que uma amiga havia me dito sobre ele. Toda minha inocência em relação ao que estava acontecendo entre a gente, começava a se rasgar de diante dos meus olhos naquele mesmo instante.
A forma como ele me tocava começou a mudar depois de um certo tempo, seus gestos de gentileza comigo se acentuaram e indecifrável era o seu olhar sobre mim. Como se houvesse uma barreira impenetrável, difícil de ser rompida para ver o que há por trás de seus olhos.
Envergonhada, coloquei o livro em frente ao meu rosto. Vez ou outra abaixava um pouco e constatava que ele ainda me encarava sem ao menos vacilar. Toda aquela troca de olhares estava me deixando totalmente corada. Com certeza.
No final da tarde, fomos embora... Nossos amigos continuaram por lá. Fomos apenas ele e eu.
Apenas ele e eu.
Ele e eu.
Imaginou?
Depois de muita enrolação, algumas bajulações e risadas, ele resolveu ir direto ao assunto:
— Estou gostando de você — ele riu sem jeito. — Mesmo!
Oi? Paralisei. Ainda processando a informação. Meu cérebro parecera ter congelado.
Oi? Paralisei. Ainda processando a informação. Meu cérebro parecera ter congelado.
Eu ri um pouco e desviei meu olhar do seu. Fiquei calada por muito tempo. Tempo suficiente para produzir um longa metragem.
— E gostaria de saber... — ele encarava o chão algumas vezes. Ai-meu-Deus! — Você quer ficar comigo?
Paralisei triplamente. Meus membros estavam rígidos. Minha vontade era de sair correndo e me esconder.
Uma longa pausa sucedeu.
— Posso pensar?
— O tempo que quiser.
Ficamos em silêncio.
No máximo uns dez minutos.
— Não precisa ter medo. Se você não quiser, não vou mudar com você. — ele fez questão de dizer.
Suspirei aliviada. Torcia as mãos, nervosa.
— Agora deixo bem claro... — pausa dramática. — Não sou de desistir facilmente.
Achei que meus ossos haviam virado líquido...
— E eu sou pirracenta. — eu disse, mais árida que o sertão.
— Então estamos quites — rimos.
— É...
Chegamos no ponto de ônibus e ao me despedir ele tentou me beijar, mas desviei e seu beijo acertou o canto da minha boca.
— Não... — ri meio sem-graça. — Preciso pensar melhor.
— Tudo bem, linda. Te dou o tempo que precisar. Sou paciente.
Naquele momento me senti bem por ele respeitar. Achei até gentil de sua parte pegar o ônibus em outro ponto mais longe, só pra me deixar perto de casa.
Ele foi embora e eu fiquei só... com meus pensamentos.
Tudo estava uma bagunça. Mas eu já tinha uma resposta concreta do que queria. Apenas resolvi deixar no ar o que realmente queria.
E eu o queria. Também estava gostando dele. Não tinha ideia de onde eu estava prestes a me meter. Mas tinha certeza de que aquele garoto havia me cativado de uma forma sobrenatural, me deixando sem escolha a não ser me jogar de cabeça.
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